
Foto: Thiago William
Da redação: Elton Luiz Victória
Os dois temporais de chuva dos últimos 7 dias em Santa Maria de Jetibá ocasionaram uma breve melhora no nível do Rio Santa Maria da Vitória por alguns dias, mas o volume de água corrente no afluente voltou a cair nesta quinta-feira (29), já beirando novamente uma baixa recorde nos últimos 30 dias.
De acordo com dados divulgados no Boletim Hídrico da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), do Governo do Estado, que acompanha a vazão do principal manancial do município, o nível do rio caiu de 2.212 litros por segundo na quarta-feira para 2.108 litros na quinta, última medição divulgada pela agência. O volume de água registrado no índice é considerado crítico quando fica abaixo de 3.800 l./s.
Na última terça-feira, logo após as chuvas, o índice registrado caiu a 1.883 l/s., depois subiu pouco mais de 300l./s, e agora, seguido de uma nova queda de mais de 100 litros, marca duas vezes menos que a média mensal histórica de água esperada para esta época do ano e segue caindo.
Mesmo com a queda observada no volume do rio, o racionamento de água do município, adotado no último dia 15, durou menos de 24 horas e segue suspenso. À Rádio Pomerana FM, agricultores se queixam por mensagens sobre multas recebidas enquanto moradores do bairro Centro continuam sendo flagrados quase diariamente desperdiçando água, em desrespeito à proibição, sem receber nenhuma multa de nenhum órgão fiscalizador.
A Polícia Militar Ambiental de Santa Teresa foi contatada por 4 vezes para responder diversas questões acerca do assunto, mas não respondeu a nossa equipe.
Racionamento continua na Grande Vitória
Na Grande Vitória, após os sete primeiros dias de racionamento de água com o esforço da sociedade para se adaptar ao rodízio, o resultado obtido foi uma economia de 16% no sistema que capta água do Rio Santa Maria da Vitória e 12% no Rio Jucu. Ao todo 538 milhões de litros de água foram economizados durante a semana. Esse volume daria para abastecer o município de Serra por nove dias ou 42 mil residências por um mês.
As chuvas que ocorreram nesse período tiveram efeitos diferentes nas duas bacias. No rio Rio Jucu, a vazão que estava abaixo daquela necessária ao abastecimento da população subiu, mostrando uma recuperação rápida desse manancial, mas as medições dos últimos dois dias apresentam uma tendência de queda acentuada. Já a vazão do Rio Santa Maria não respondeu às chuvas, entretanto, o nível da represa de Rio Bonito se encontra com 22% do volume. Desde o início da pior crise hídrica que já atingiu o Espírito Santo, a represa passou a ser operada como reservatório de água do Rio Santa Maria da Vitória.
“Dado esse conjunto de fatores, ainda não é possível suspender o racionamento. Será preciso um esforço adicional até que os rios nos deem segurança para normalizar o fornecimento de água. O rodízio continua sem nenhuma alteração e permanecemos monitorando intensivamente o comportamento dos sistemas de abastecimento”, afirmou o diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Cesan, Amadeu Wetler. O diretor acrescentou ainda que o uso racional da água deve se tornar um hábito contínuo da população e todos os setores da economia. “Toda atitude para economizar é importante e válida. É uma nova relação de valor que estamos construindo com a água”, disse.
O rodízio no abastecimento de água para a Grande Vitória foi implantado pela Cesan (Companhia Espírito Santense de Saneamento) no último dia 22, após autorização da Agência de Regulação dos Serviços Públicos do Espírito Santo (Arsp) e da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh). Essa estratégia alcançou 362 bairros nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana e Fundão, abrangendo uma população de mais de 1,5 milhão de habitantes, totalizando 501.039 unidades consumidoras entre residências, comércio e serviços, indústria e setor público.
O plano de contingência para operar o rodízio foi elaborado pela Cesan de forma que o abastecimento ocorra de forma isonômica para todos. Para reduzir os impactos a Cesan promoveu ainda ampla divulgação para a população ter acesso antecipado às informações sobre racionamento e programar suas atividades para o dia de interrupção no abastecimento.
Interior
Os locais que mais sofrem com os efeitos da estiagem são as regiões norte e noroeste do Espírito Santo. No interior são 14 localidades abastecidas pela Cesan que estão sob racionamento de água. Além do acesso ao mesmo sistema de informação implantado para moradores da Grande Vitória, a Cesan também fez a divulgação nesses locais por meio de carros de som que percorrem as ruas com as informações sobre o abastecimento de água em cada localidade.
Ações
O Comitê Hídrico, criado pelo Governo em 2015, tem a atribuição de tomar medidas de curto, médio e longo prazo para garantir água para a população. Na Grande Vitória, a Cesan reforçou e impermeabilizou o enrocamento (blocos de pedras colocados uns sobre os outros) no Rio Jucu para acumular mais água na área de captação da estação de tratamento de Caçaroca. No Rio Santa Maria da Vitória, a água represada na barragem de Rio Bonito serve para regular a vazão do rio e oferece condições para captar o suficiente para o abastecimento.
Outra medida de curto prazo é a construção do Sistema de Abastecimento de Água de Reis Magos, que está com 61% das obras concluídas e deve entrar em operação até o fim do ano. Esse novo sistema terá capacidade de tratar 500l/s de água para parte da Serra, retirando a sobrecarga sobre o Rio Santa Maria da Vitória. No Rio Jucu, a Cesan está realizando o projeto básico para construção de uma represa que irá armazenar 21 bilhões de litros de água, garantindo abastecimento por quatro meses sem chuva. Os estudos para esse projeto estavam programados para iniciar em 2020 e foram antecipados para 2016.
Por meio do Programa Estadual de Construção de Barragens, a Secretaria de Estado da Agricultura (Seag) irá implantar ainda 60 novas barragens até o final de 2018 no interior do Estado. Serão 34 de uso múltiplo de médio porte e outras 26 em assentamentos de trabalhadores rurais capixabas. Além disso, também está dentro do Programa a retomada da obra da barragem de Pinheiros e a construção da barragem do Jucu, coordenada pela Cesan. Outras seis barragens de médio porte também serão construídas em Alto Rio Novo, Pedro Canário, São Roque, Vila Pavão, Ecoporanga e Barra de São Francisco, por meio de uma parceria entre os dois órgãos. Ao todo serão investidos mais R$90 milhões para as 68 barragens.
Até o final de 2015, pelo Programa Reflorestar, foram ainda atendidos mais de 1.800 produtores rurais em 73 dos 78 municípios capixabas, um investimento de R$ 28 milhões, o que está permitindo iniciar a restauração florestal em pelo menos 6.000 hectares de terras e reconhecer outros 6.000 hectares de florestas conservadas. Atualmente, existem 4.300 produtores cadastrados no Reflorestar. A meta para 2016 é atender mais 1.600 produtores rurais, o que deverá permitir iniciar a recuperação de cerca de 4.600 hectares e investimentos da ordem de R$ 25 milhões.